ELA NÃO É MULHER PRA CASAR
de Vanessa Trajano
Durvalino Couto, além de poeta de mão cheia, é jornalista pela Unb e redator publicitário pela Árvore e Plug em Teresina, fez essa resenha a partir do meu novo livro Ela não é mulher pra casar. Confiram! Eu adorei!
Diferente do seu primeiro livro de contos – Mulheres Incomuns – Vanessa Trajano inovou em seu trajeto como escritora, ao criar histórias diversas sobre mulheres também incomuns apresentadas no seu último livro, Ela Não É Mulher Pra Casar.
A novidade é que Vanessa permeia as várias histórias com considerações pessoais sobre a condição feminina que vai descrevendo, muitas vezes com fina ironia, outras vezes com mordacidade e crueza, respingando horrores em seus “contos escorregadios”.
Vanessa também se permite uma prosa mais flexível, por vezes tortuosa, característica de sua perspicácia como contista. Assim, usa e abusa de verbos pouco comuns que lança com liberdade – coisas como “diluviar”, “esbraseava”, “reclusou-se”; e adjetivos e substantivos que fazem ruído na compreensão do leitor, como “carrasca”, “mórrida”, “pesadumes” ou “somativa”.
As histórias são dolorosas, amargas, carregadas de uma prosa original e, sem dúvida, cheia de nuances ritmadas e quase poéticas, por assim dizer. Um exemplo cai bem aqui.
“Os olhos, em carne viva, ou porque não dormia o suficiente há noites ou porque já morria, ficaram presos no espelho, assistindo a essa miséria de vida que não sai do corpo enquanto Deus não mandar. Eu buscava ar em todos os buracos, inclusive nos meus. O que entrava bastava apenas para lançar mais descargas do que havia de pior em mim. Se fechasse os olhos, temia que as pálpebras grudassem uma na outra e eu vivesse sempre naquele terror. Por isso estava acesa, por mais que a mente me abandonasse em vertigens.”
Geralmente bem curtas, as muitas histórias do livro (25, para ser exato) trazem uma descarga incomum de amargura e rebeldia, e evidenciam uma prosa ágil, veloz e áspera como não se vê por aí. Creio que uma revisão mais acurada seria bem vinda para tirar do livro alguns errinhos de composição (e de concordância, é forçoso reconhecer). Vanessa Trajano se supera em invenção e inquietude, bem típica de uma garota de Teresina que tem original facilidade para escrever bem.
Recomendo a todos.
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