Pular para o conteúdo principal
ANSIOSA, EU? IMAGINA
ANSIOSA, EU? IMAGINA
Esses
dias estacionava próxima a uma parada de ônibus quando presenciei a seguinte
cena – ao meu ver, bastante curiosa: uma moça estava sendo amparada por um
grupo de pessoas que a abanavam enquanto ela puxava o ar desesperadamente e de
olhos bem fechados. Um desses paramédicos improvisados alertou: saiam de cima
da menina, ela está tendo uma crise de ansiedade. E como num súbito de
compreensão, o aglomerado se inclinou para trás de modo que a coitada pudesse
respirar melhor.
Fiquei emocionada diante do que vi, confesso. Há 12
anos quando fui diagnosticada com síndrome do pânico e ansiedade generalizada
quase ninguém sabia do que se tratava. Ou se sabia julgava como frescura, falta
de taca, de Deus, mimimi. Na escola não se falava sobre o assunto, na televisão
muito menos e a internet era um bebê a engatinhar.
Ou
seja, ficar feliz ao saber que hoje a maioria das pessoas não aborda essa
questão com a mesma negligência e falta de conhecimento é também um ato de
egoísmo. Realmente não aprovo que mais da metade do meu ciclo de conhecidos
relatam sofrer devido a esses problemas e por isso tomam remédio, fazem
terapia, yoga, acupuntura, mindfulness,
tudo na tentativa de se sentirem menos desajustadas. Mas pelo menos tal sintoma
social serve para que fiquemos de sobreaviso: esse estilo de vida vai nos matar.
De verdade.
Enquanto
eu parecia sofrer sozinha e o mundo permanecia numa felicidade arrogante, hoje
tenho meus picos sem sucumbir, em parte por aprender a conviver. Por essa
razão, sinto que tenho muito a oferecer a essas pessoas, porque na época não
tive ninguém para estender a mão e dizer: eu sei o que você está passando. Hoje
em dia qualquer um pode fazer isso com outro ao seu lado, pois afinal está todo
mundo com a cabeça meio doida mesmo, desparafusada, acelerada a milhões, ao
passo que o planeta ainda faz um giro completo apenas em 24 horas. Sim, não
fomos capazes de mudar isso nem com toda essa pressa.
Então
saber o que é ansiedade/depressão por vivência e não por definições talvez seja
a forma mais drástica de nos humanizar atualmente. Mesmo que desejem nos
transformar em máquinas, vitrines e bombas-relógios podemos resistir em poesia,
indulgência, amor. Uma corrente de pessoas abraçadas cheia de energia, cuja
sensibilidade é o maior refúgio – embora pareça fraqueza, num olhar desatento.
E
se algum indivíduo a esta altura do campeonato tiver a audácia de taxar doenças
tão terríveis de frescura, espere por reencontrá-lo nos próximos dez anos. O monstro
pegará a todos. Falo por experiência própria.
Vanessa Teodoro Trajano
Comentários
Postar um comentário